13 de março de 2009

Big Brother - O Espelho



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"Manuel Bandeira chegou pra mim um dia, quando eu e meus personagens éramos odiados, e disse: Nelson, por que você não faz uma peça em que os personagens sejam assim como todo mundo? Eu respondi da forma mais singela: 'Mas meu caro Bandeira, meus personagens são como todo mundo. Porque uma coisa é verdade: quem metia ou mete o pau no meu teatro está procedendo como um Narciso às avessas, cuspindo na própria imagem." (Nelson Rodrigues).

Pois é Nelson... foi em você que tão bem retratou a vida sem maquiagem e fez com que a sociedade moralista, principalmente a classe média e alta, se visse sem roupas diante de todos os leitores, espectadores e de si mesmos, que lembrei-me ao visitar os blogs “especialistas” em Big Brother Brasil e seus respectivos comentários e imagens.

Imaginei então: Como o “velho” Nelson, caso estivesse materialmente entre nós, teceria seus comentários em relação ao assunto? Lemos com freqüência uma overdose de preconceito e desrespeito em cima de cada participante e suas atitudes no jogo, exceto os "escolhidos". Acredito que Ele certamente repetiria o já dito: os realmente virtuosos, gente honesta pra burro, não tem pudor em aceitar as coisas e as pessoas como são, sem julgá-las , tão pouco condená-las, porém os “depravados”, estes sim tem o santo horror à diferença”. Mas o certo mesmo meu caro Nelson, é que, atitudes como estas acontecem porque quase sempre, o homem nasce, vive e morre sem ter contemplado jamais o seu rosto verdadeiro.

Assistir este tipo de programa – Reality Show – observar as pessoas, suas diferenças, alternar sensação de amor e ódio diante de determinadas atitudes tomadas pelos participantes, analisar sua postura ética, moral, de respeito e justiça, ter um favorito e torcer para que o mesmo vença os obstáculos é imensamente agradável e saudável do ponto de vista comportamental, porém ética, moral, justiça e respeito é algo totalmente subjetivo demais para ser “julgado” em nosso tempo e por está razão, aprender a conviver e respeitar a diferença no mundo contemporâneo, trata-se do maior desafio da humanidade, talvez por esta razão, o sucesso deste tipo de programa.


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É muito agradável “navegar” por blogs com uma postura critica, porém light, com leveza e bom humor, informando e trocando idéias sobre o jogo. Ruim é acompanhar a postura de blogueiros que entendem que para que seu favorito sobressaia, ele precise necessariamente atacar o adversário, com imagens chulas e bizarras, carregadas de uma linguagem preconceituosa e ofensiva. Sinceramente não compreendo! Para exaltar as qualidades de um não é necessário diminuirem as qualidades do outro, mas o povo é assim: tem o ego inflado e a ignorância do autoconhecimento, como a maioria dos brothers que tanto criticam. Ao posicionarem-se desta forma, estão na verdade, se igualando a tudo que muitas vezes criticam. Assistimos neste meio, pessoas ridículas, que se dizem "especialistas", querendo desnecessariamente aparecer mais que a própria obra, quando na realidade acredito que vêem a si próprios em cada ato, em cada gesto, em cada postura de cada participante que tanto os incomodam. O extremismo é maléfico em qualquer situação!

Big Brother, não é o País das Maravilhas não, ali não tem santo, não tem inocente, não atitudes angelicais, muito pelo contrário, afirmo sempre que é preciso coragem para participar de um tipo de programa como este, onde a exposição e a invasão de sua vida, seus princípios, seu caráter ficarão a mostra em tempo integral durante aproximadamente 90 dias. A seleção é feita justamente com vários tipos de pessoas (boas, ruins, simpáticas, antipáticas, calmas, agitadas) para ser interessante, ver o que existe no mundo. Do contrário, a seleção seria feita só em cima dos bonzinhos, politicamente corretos e cheios de pudores. Por mais verdadeiro, transparente e impulsivo que você seja, ao entrar no Big Brother você vira um personagem e o que vai ser passado para o público é um estereótipo sintetizado de você mesmo

Para nós que ficamos confortavelmente sentados em nossas poltronas, o intrigante é conferir as diferenças, perceber até que ponto o ser humano se auto corrompe, se auto flagela por dinheiro, refletir sobre os erros e acertos de cada um e quem sabe, aplicar como lição para nossa própria melhora como seres humanos. O reality show, ao contrário do que muitos afirmam, não é só uma “novela”, mas também um espelho, que faz com que cada pessoa que assista remexa dentro de si os sentimentos mais obscuros, os desejos mais sórdidos e, ao se emocionar, chorar pelo outro, ao sentir pena, na verdade, vê ali um pouco de si mesmo. Isso causa um grande movimento interno de autoconhecimento chamado evolução.

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Lembrem-se: sejamos nós, blogueiros, torcedores, fãs, fanáticos, denominem como quiserem, não devemos cometer o erro de tentar manipular os roteiros de uma forma egoísta ou cruel, pois não vai ter um resultado permanente, apesar de até funcionar muitas vezes. Temos que lembrar que todo o roteiro determinado para alguém se refletirá também em você. Portanto, cuidado com o que você estabelece como realidade ou sinopse em sua vida. O mundo é uma construção da nossa cabeça. Tudo o que está do lado de fora nasceu da nossa vontade interna. Somos ying e yang, Vênus e Marte, razão e sensibilidade e é no equilíbrio dessa forças antagônicas, na aceitação, no respeito ao outro e na diferença, que a gente aprende e cresce.

O Big Brother Brasil continua escrevendo a sua história... Os que acompanham, aos quais me incluo, continuam ligados, espiando e você o que acha disso tudo?


 
©2007 '' Por Elke di Barros