"A minha preocupação não está em ser coerente com as minhas afirmações anteriores sobre determinado problema,
mas em ser coerente com a verdade."
(Mahatma Gandhi)
(Mahatma Gandhi)
Fazer aniversário, ficar mais experiente, somar os anos, comemorar com a família, com os amigos, ser lembrada, festejada, ganhar presentes, belas flores, receber ligações, torpedos, comer guloseimas e de quebra um vinhozinho, afinal merecemos, etc, faz da data um dia especial, que nos deixa mais felizes, mais sensíveis, querendo amar muito e ser amado cada dia mais porque nos inspira em busca de novas conquistas, recompõe nosso ânimo, opera mudanças.. Mas especial mesmo e acima de tudo é a reflexão inevitável do que fazer com tudo isso, com os anos, com a experiência já adquirida, com os amores, com o conviver e como transformar esta soma em benefícios à nossa vida e à todos ao nosso redor nesta busca constante pelo aprendizado e pela evolução como ser humano.
O ser humano está no planeta Terra para evoluir em todos os sentidos. A humanidade alcançou um nível razoável de evolução nas áreas da ciência, medicina, tecnologia, educação, telefonia, robótica etc. mas tem ainda um longo caminho a percorrer em relação a evolução essencial do seu SER. Esta vida agitada e turbulenta que imprimimos ao nosso cotidiano, muitas vezes não nos permite acordar pela manhã com calma, respirar, sentir os raios do astro rei aquecendo o despertar de nossos corações como em um grande abraço, sentindo a vida mesmo. Isso é algo que me reservo o direito de fazer pelo menos uma vez ao final dos 365 dias de cada ciclo completado porque olhar para o universo e consultar intimamente nosso analista maior, lá do alto e tão aqui, me permite perguntar-lhe: Quem sou eu? O que fiz de minha existência até agora? O caminho escolhido e traçado foi o melhor? Estou feliz como e com o que sou? Sei que a resposta é minha mas com sua bênção porque não é nada fácil questionar-se e ouví-LO ao mesmo tempo. Para tornar o questionamento produtivo é fundamental que tenhamos a mente e o coração abertos, que tenhamos discernimento para entender que acertamos e erramos, que é preciso ter vontade em dar continuidade às nossas ações, prosseguir possível e em paz, inclusive, mudando de rota se for preciso.
Ouvimos sempre que, para que as ações em nossas vidas tenham valor, precisamos e devemos ser sempre coerentes. Mas o que é ser coerente? É possível sermos coerentes no mundo em que vivemos, onde presenciamos reinar a multiplicidade e mudanças a todo tempo? Teoricamente ser coerente é seguir conceitos formados e formulados à respeito de coisas e pessoas, colocando-se de forma imutável, mas em um mundo em constante mutação não é possível pensarmos em algo permanente, mesmo que seja no campo da teoria, pois a velocidade com que conceitos são revistos, o princípio da COERÊNCIA admite a possibilidade de INCOERÊNCIAS desde que inseridas no processo de sua superação. Se analisarmos e aceitarmos o ser humano como alguém em permanente aprendizagem, falar em coerência é algo complicado... Sempre me lembro de um amigo que afirma o seguinte: “Seja incoerente dentro de sua mais ampla coerência e desde que você não prejudique ninguém, mude de opinião de vez em quando, e caia em contradição sem envergonhar-se disso - você tem este direito, não importa o que os outros pensem - porque eles vão pensar de qualquer maneira”.

Em meio aos muitos questionamentos, surge-nos sempre a frase: “VIVER É MUITO MAIS QUE EXISTIR” e para viver é preciso não guardar-se dentro do armário, não ter vergonha de assumir o que se é, de adaptar-se ao modelo de sociedade e à sua época, seus costumes, suas contradições. Aceitar isso não significa que não tenhamos parâmetros em nossas vidas. Pense comigo. Você não precisa ser coerente, você não precisa explicar o inexplicável, você não precisa argumentar.. O que você precisa é selar seus lábios durante um tempo para não cair na tentação de explicar-se, e fazer, simplesmente fazer. Ou seja, faça e depois fale; e viva, viva com intensidade. Este sim tem sido um conceito básico em meus questionamentos. No seu também?
O pai da psicanálise (Sigmund Freud) em uma de suas obras “A consistência do ser...”, coloca-nos claro que: “Dizem que quem modifica de tempos em tempos as suas idéias não merece qualquer confiança, porque faz supor que as suas últimas afirmações são tão errôneas como as anteriores. Mas, por outro lado, quem mantém as suas primeiras idéias e não as abandona facilmente, passa por teimoso e iludido. Perante estes dois juízos opostos da crítica, há só uma opção a fazer: permanecer-se aquilo que se é, e seguir-se apenas o próprio juízo.”
Permanecer-se aquilo que se é torna-se o nosso grande desafio: viver a vida é não excluir-se diante dos conflitos entre as normas e o impulso porque não existe vida sem conflitos, porque ninguém pode ser só formiga nem só cigarra.. A flexibilidade impera para trabalharmos nossas diferenças, os conceitos de coerência e até de ética que se ajustam de acordo com cada época.
Com isso em mente e em minhas sessões de auto-análise (sempre com horário marcado para a hora da chegada daqueles primeiros raios de sol do meu dia 16 de junho, no início de cada ciclo), eu tenho claro que pouco importa o julgamento dos outros porque os seres são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas e satisfazê-los plenamente. Então, procuro simplesmente ser autêntica e verdadeira comigo mesmo em primeiro lugar. A minha coerência me faz ver e entender que meu real compromisso é com a VERDADE, com minhas tentativas de felicidade como sou, aceitando minhas qualidades e tentando corrigir meus defeitos, não querendo viver uma simbiose e nem projetando-me através do outro. Afinal, triste de quem vive para ser o que o outro é e se esquece de valorizar-se a si próprio em primeiro lugar...
Minha coerência pode não ser o modelo teoricamente divulgado e propagado, mas ela me permite revoltar-me diante das injustiças, das diferenças, das incompreensões, da falsidade.. Ela não me permite ler qualquer frase, seja com qual teor for, e simplesmente por achá-la bonita, encaminhá-la a alguém sem antes aplicá-la a mim mesmo. Ela não me permite sentir inveja e querer o que o outro tem pois me diz que eu sou suficientemente capaz de buscar minhas próprias realizações, me pautando de veracidade, segurança, sinceridade, companheirismo, fidelidade aos meus sentimentos e ao do outro, com respeito. Minha coerência me diz que vale mais 'o ser e muito menos o ter', me diz que o maior bem é aquilo que aprendi, que ainda vou aprender com a vida, com os livros, com cada dia.. pois esta “fortuna” é a única que nunca me será tirada.

É claro e óbvio que nos caminhos por nós percorridos, encontramos diferentes personalidades.. Algumas nos servem de exemplos e nos estimulam; outras, são verdadeiras decepções como ser humano. Ambas me servem de exemplo.. Uma para que eu veja o lado positivo a alcançar; e outra, para lembrar-me o que não devo ser (a eterna dualidade da vida - Yin e Yang). Mas, se EU sou EU, seguirei sempre sendo porque errar faz parte e só erra quem faz, quem revê conceitos, aceita os erros, procura praticar a humildade, reconhece que ninguém é soberano nem invencível em nada nesta vida e que o caminho percorrido por todos nos leva a... um só destino.
Muito se tem a falar sobre a coerência, muito se tem a falar da vida.. Meu ciclo está só inicando mas como escrevê-lo? Não importa. A única certeza é que viverei com tudo que me for permitido viver e quem sabe, daqui a 363 dias, no próximo dia 16 de junho, eu ainda não esteja por aqui escrevendo sobre novas indagações e novos questionamentos? Não importa aonde desde que comprometida COERENTEMENTE COM A VERDADE pois esta sim é imutável... sempre!
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