(Provérbio suíço)

Liquidação em loja teen, de griffe. Sabe aquela loja que as adolescentes adooooram e onde reviram olhos, araras e bolsos sonhando o 'supremo' look? Quando a tal entra em liquidação, aí não tem jeito, ou você enlouquece ou enlouquece com o melô da miragem, das promessas de "filhas", com o hit da hora, o mantra enfadonho, a caça ao amém sob pressão:
- Mãaaae, por favor, por favor, vai...
- Ô tia, dá uma força, convence a minha mãe, vaaamos...
Shopping, fim de semana, e lotado. A fila pra loja parece fila de sem-outra-opção, aguardando senha, em centro comunitário. A garotada se prolifera, brota do piso, cai de paraquédas.. e praticamente de uniforme: plataforma, jeans, camisetinhas justas, jaquetas na cintura, piercings, tatuagens e chapinhas no cabelo, "tá ligado?"
Você e a mãe da "sobrinha" nem precisam adivinhar que isso vai durar uma vida. As filhas ficam na fila e vocês vão bater perna. Uma hora depois, a fila andou uma prancha de surf só. Vocês resolvem ir ao cinema. Duas horas depois, as garotas estão "quase" lá. Então vocês resolvem tomar um café na praça de alimentação, em frente, como outros coagidos pais, tamborilando dedinhos em outras mesas. E blablabla até que as suas etzinhas em série adentram a "nave-paraíso". Outro café, outro, outro, enquanto elas escolhem, fuçam, "pescam" e enfrentam novas filas no provador. E vocês ali, sentadinhas, inventando assunto, dissecando aquele ator maravilhoso, aquela atriz talentosa, aquela história e a vida no exercício de observá-las de camarote, através da vitrina, no cansativo zanzar de vendedoras borralheiras. Sim, porque as coitadas, a esta altura, estão como farinha de sucrilhos, no fundo do saquinho. Mais um pouco eteeerno e eis a compensação: o sorriso cinderela das meninas, ensacoladamente cúmplices, futilmente realizadas, espirituosamente felizes. E blablabla ao seu redor, agora suspirativamente endividado, como se vocês também fizessem parte do núcleo de Malhação. Coooooorta!!
- Mãaae, tiaaaa... vamos passar ali (lá e sabe mais Deus onde), porque... - e vão saindo, como se tivessem motorzinhos na bunda; emprestando a vocês aquela cara de cabide velho devidamente aproveitado pelas sacolas que despencam nos seus colos e na minúscula mesinha. Mas, vocês saem, atrás...
- Êi mocinhas, meia volta volver.
- Pô, mãe... tiaaa.. é rapidinho... - já a uns vinte écos de gargalhadas, na escada rolante.
Sabe aquele dia? Muita gente, cansaço, bunda quadrada, papo lento, saldo contadinho no Banco, unha encravada, aquela bota que você viu e resistiu, aquele ex-qualquer coisa que viu você e não resistiu (olá, como vai/eu vou indo e você tudo bem/quanto tempo/pois é, quanto tempo...), alguém que esbarra, lembrança boba, marido ligando, "sobrinha" que vai dormir em casa porque elas fizeram planos pra balada, carona pra mãe dela, buscar outras roupas e idéias ... Pois é!
Horas depois, dentro do carro, quase na saída do estacionamento, sua filha diz:
- Mãe, o que vai ter de janta?
- Meu Deus, o café! - lembro.
- Café? A janta vai ser caafééé? - ela muxoxeia.
- Geeente, nós não pagamos o café! - digo
- Ah, deixa prá lá... - dizem.
- Neeem pensar! - respondo, procurando outra vaga.
- Mãããnhêee!!
- Fiiiihii...lha!
Volto, vôo, procuro a garçonete que nos atendeu, peço a comanda, desculpas e pago.
- Noooossa, eu nem notei... Que raro isso, de alguém voltar... Obrigada. - diz.
Vôo, volto, entro no carro, e escuto:
- Bah tia, que mico! Ela nem lembrava...
- Pois é, parceira, podíamos pagar outro dia.
- É mãe, que exagero!
- Nem eu nem minha consciência conseguiríamos dormir com isso, capisce?! E aí, o que vocês querem jantar?

Lembrei disso agora, ouvindo minha filha ao telefone, num outro país, indignada ao comparar o "politicamente correto" daqui e de lá..
A griffe da honestidade não é mico e nem nunca sai de moda, graças à Deus.
|