
Estamos vivendo as últimas horas do dia 05 de outubro: dia de eleição no país, do Iapoque ao Chuí. Dia em que tanto o operário como o patrão tem o mesmo valor: (1) um voto, pelo menos das 8h da manhã às 17h da tarde, período em que a população se dirige às cabines de votação. A mídia, seja escrita ou falada, volta suas atenções para a abertura das urnas, números se confirmam, ou não, alguns festejam, outros lamentam e o brasileiro está se sentindo mais cidadão. Será? Nunca se falou tanto sobre cidadania e ser cidadão em nossa sociedade como nos últimos anos. Mas afinal, o que é cidadania, além de uma palavra bonita de ser pronunciada? Segundo o Dicionário Aurélio, entende-se por cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este".
Como definição, perfeito, mas o velho confronto da práxis se estabelece, correto teoricamente, mas e a prática? Aí que reside o problema, avançamos em busca da sonhada cidadania com a chamada constituição cidadã de 1988 (promulgada a exatamente vinte anos), mas o processo ainda é embrionário, muita coisa não saiu do papel, muito se tem a caminhar, pois nossas barreiras além de culturais, são históricas. Como bem definiu o jurista Dalmo Dalari: “Somos filhos e filhas de uma nação nascida sob o signo da cruz e da espada, acostumados a apanhar calados, a dizer sempre “sim senho?”, a «engolir “sapos”, a achar “normal” as injustiças, a termos um “jeitinho’ para tudo, a não levar à sério a coisa pública, a pensar que direitos são privilégios e exigí-los não é ser boçal e metido, a pensar que Deus é brasileiro e se as coisas estão como estão é por vontade Dele”.
Hoje a maioria de nós comparecemos as urnas para escolher nossos futuros governantes, ato bonito para ser propagado em versos e prosa, mas onde está o direito de ir e vir se todos fomos OBRIGADOS a nos apresentar para termos nossos documentos carimbados e estarmos “legais” diante da lei? Assim como o ato do voto, muitas outras coisas nos são colocadas “goela” abaixo em forma de deveres, quando na realidade deveríamos ter a opção de escolha como direito. Se ser obrigado a votar é a expressão de cidadania, constato então, de que estamos quando muito, cambaleando no primeiro passo dado em busca de sua construção.
Falar em cidadania, em dia de eleição, é uma fala simplista demais, na realidade, trata-se de uma falácia, pois o ato de elevar um pessoa ao “status” de cidadão somente porque ele cumpriu a OBRIGATORIEDADE do voto, é pensar pequeno e aspirar pouco. A cidadania não surge do nada, não é porque existe a lei que nos protege que viramos cidadão, esta lei precisa ser exercida porque os abusos estão aí, continuam a ser aplicados cotidianamente. A lei não interpretada e aplicada se resume a um amontado de letras mortas em uma folha de papel, como constatamos na maioria das vezes.
Após o fechamento das urnas, muitos dos eleitos ao colocarem suas cabeças no travesseiro, infelizmente, já terão se esquecido daqueles chamados “cidadão”. Nem sequer lembrarão, que o mesmo cidadão à quem pediu sua confiança e seu voto é na verdade um sobrevivente em um país onde tem 50 milhões de miseráveis - 29.3% administra uma renda mensal inferior a 80 reais per capita (FGV). Ser cidadão é ter participação ativa na sociedade onde está inserido sim, mas fundamentalmente é ter trabalho para seu sustento, poder aquisitivo em uma sociedade capitalista e de consumo, comida na mesa, educação e saúde para si e para seus filhos, viver enfim.. com dignidade. Considerando, podemos afirmar que, muito longe de SERMOS UM PAÍS CIDADÃO, somos na verdade um país de super-heróis”, que ESTÁ CIDADÃO, esperando por atos milagrosos de nossos escolhidos e deixando-se levar pelos acontecimentos, sem reclamar das situações vividas, sem nada fazer para mudar. Ser Cidadão é saber viver em sociedade, estando ciente dos anseios comuns, exercendo direitos e cumprindo deveres, pois viver em sociedade, a priore e acima de tudo, demanda eternas conquistas.
Que seu voto valha aí!!!
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